domingo, 20 de setembro de 2009

Como Tudo Começou


Desde o início da Baixa Idade Média,as cidades italianas dominavam comercialmente o Mediterrâneo, monopolizando a distribuição dos produtos orientais no continente europeu.Percorrendo rotas terrestres e fluviais, os mercadores de Veneza, Gênova e outras cidades da península Itálica dirigiam-se às feiras de Champanhe e de Flandres, onde realizavam seus negócios com os comerciantes do norte da Europa.



Entretanto, a crise iniciada no século XIV, decorrente da Guerra dos Cem Anos, da propagação da peste negra e das próprias limitações do sistema feudal, afetou profundamente o comércio europeu.As tradicionais rotas de comércio já não ofereciam segurança contra os assaltos, cada vez mais freqüentes.Além disso, os mercadores eram obrigados a pagar pesadas tarifas aos senhores feudais pelo direito de atravessa suas propriedades, o que elevava o preço final de mercadorias.



Assim, as antigas rotas terrestres e fluviais acabaram entrando em colapso, sendo lentamente substituídas por rotas marítimas, que passaram a ligar a Itália ao mar do Norte através do oceano Atlântico.
Foi nesse quadro que o litoral português assumiu importância.



Como ficasse aproximadamente na metade do percurso entre a Itália e o mar do Norte, Portugal passou a constituir um excelente ponto de escala e de abastecimento para os mercadores italianos e flamengos.Com isso, as atividades econômicas do país se desenvolveram, possibilitando a ascensão do grupo mercantil português, que, mais tarde, fortalecido, projetaria a expansão marítima.




A própria monarquia lusitana, sob a dinastia de Avis, percebendo a importância do desenvolvimento do comércio para o progresso do país e o fortalecimento do Estado, passou a estimular as atividades mercantis.Uma das medidas de incentivo adotadas pelo governo foi a criação e ensino dos conhecimentos e técnicas de navegação,dirigida pelo infante D. Henrique, filho do rei D. João I.



O mundo europeu nessa época, abalado pela crise do feudalismo, procurava se reestruturar economicamente.Ao mesmo tempo, as minas de metais preciosos – tão necessários para o desenvolvimento do comércio – haviam praticamente se esgotado no Velho Continente e o mercado consumidor dos produtos orientais era cada vez mais limitado, pois os preços dessas mercadorias tornaram-se excessivamente altos,O monopólio italiano para obtê-las em Constantinopla ou Alexandria e o grande número de intermediários na distribuição elevavam demasiadamente o preço final, constituindo uma séria barreira ao crescimento econômico.



Para revitalizar a economia européia seria necessário, portanto, buscar opções para obter metais preciosos e ampliar as possibilidades de comércio, oferecendo produtos a preços mais baixos.Isso só seria possível com uma nova rota para o Oriente – na medida em que o Mediterrâneo era controlado pelos italianos – e a conquista de outros mercados.



Portanto, tornava-se necessário dar início à expansão marítima, desbravando o Atlântico e contornando o continente africano. Entretanto, os Estados europeus ainda não conseguiam reunir as condições necessárias à expansão.A Espanha enfrentava dificuldades internas e externas, devido à falta de um governo unificado e à presença árabe no sul da península Ibérica, questões que só seriam solucionadas com o casamento dos reis de Aragão e Castela (1469) e a reconquista de Granada (1492).



A Inglaterra e a França estavam envolvidas na Guerra dos Cem Anos, cujas conseqüências lhes foram desastrosas, e os ingleses ainda viveriam a Guerra das Duas Rosas.O Sacro Império continuava fragmentado em uma série de reinos alemães e em repúblicas italianas, estas últimas interessadas na manutenção da supremacia do comércio do Mediterrâneo.



Fragmentadas também estavam as regiões da Bélgica e da Holanda, as chamadas Províncias dos Países Baixos.
Assim, apenas o Estado português reunia as condições essenciais para iniciar a expansão ultramarina: um governo forte, entrosado com o grupo mercantil nacional, localização privilegiada em relação ao Atlântico, unidade e estabilidade, quando comparado aos outros Estados europeus, e conhecimentos técnicos necessários.


A EXPANSÃO MARÍTIMA LUSA



Iniciada em 1415 com a tomada de um entreposto comercial árabe no norte africano – Ceuta -- , a expansão lusa caracterizou-se inicialmente pela conquista do litoral da África e de ilhas do Atlântico.A partir da segunda metade do século XV, os conhecimentos náuticos necessários para realizar viagens mais audaciosas.Assim, a descoberta de uma nova rota para as Índias e a possibilidade de adquirir os produtos orientais por preços bem mais baixos transformaram-se no principal objetivo do Estado português.



Nesse processo de expansão, Lisboa se transformou num centro comercial importantíssimo, firmando-se como elo fundamental na cadeia do comércio europeu.Entretanto, por não possuir uma organização financeira à altura,capaz de manter sua supremacia comercial, a atividade mercantil portuguesa vinculou-se demasiadamente às companhias comerciais holandesas e italianas.Dessa forma, as enormes riquezas obtidas pelos portugueses foram se diluindo pelo resto da Europa, reforçando outras burguesias e impossibilitando uma capitalização interna contínua e até mesmo o desenvolvimento de uma produção manufatureira nacional.


A EXPANSÃO MARÍTIMA ESPANHOLA


Antes mesmo que Vasco da Gama chegasse às Índias, a Espanha entrava em cena na expansão ultramarina européia.Tendo superado em 1492 dois sérios entraves ao progresso nacional – a presença árabe e a divisão interna -- , a Espanha reuniu forças para participar das disputas comerciais e da exploração do mundo colonial.Nesse mesmo ano o novo reino patrocinava a viagem do navegador genovês Cristóvão Colombo.



Acreditando na esfericidade da terra, Colombo defendia a tese do el levante por el poniente, isto é de que seria possível alcançar as Índias (no Oriente) navegando em direção ao Ocidente.Partindo em agosto de 1492, Colombo rumou para oeste por dois meses, alcançando a ilha de Guanaani (San Salvador), nas Bahamas.



Acreditou, porém, ter alcançado as Índias, e só mais tarde, em 1504, é que o navegador Américo Vespúcio confirmaria que se havia descoberto um novo continente.Iniciava-se desse modo o ciclo espanhol das Grandes Navegações.


AS DISPUTAS IBÉRICAS:OS TRATADOS ULTRAMARINOS


A corrida expansionista de Portugal e Espanha gerou, já na segunda metade do século XV, inevitáveis conflitos e inúmeras controvérsias acerca do direito de posse sobre as terras descobertas ou a descobrir.Com o objetivo de definir os direitos de cada país, formularam-se diversos tratados, dos quais o primeiro foi o Tratado de Toledo, assinado em 1480.Esse tratado, que garantia a Portugal as terras a descobrir ao sul das ilhas Canárias, constituiu uma importante vitória da diplomacia lusitana, pois assegurava a Portugal a rota das Índias pelo sul da África.



Todavia, após a viagem de Colombo, em 1492, as decisões impostas por esse tratado tornaram-se insustentáveis.Em 1493, o papa Alexandre VI editava a Bula Intercoetera, que determinava a partilha do mundo ultramarino entre espanhóis e portugueses.Um meridiano situado 100 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde destinava a Portugal todos os territórios situados a leste, e à Espanha, as terras localizadas a oeste do meridiano.



Sentindo-se prejudicados, os portugueses contestaram energicamente esse tratado e exigiram sua reformulação.Depois de um período de negociações entre os dois países, um acordo foi celebrado em 1494, na cidade de Tordesilhas, na Espanha.O Tratado de Tordesilhas substituía a linha divisória anterior por outra, situada 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde.Com esse tratado tornavam-se mais amplas para Portugal as possibilidades de conquistar terras no Atlântico ocidental, cuja existência já era do conhecimento dos portugueses.